
Unidade CAL Laranjeiras
Espaço Yan Michalski
"No meio da floresta, estamos nós, sem ninguém para amar, e sem esperança nenhuma com a qual sonhar."
O dramaturgo libanês-canadense Wajdi Mouawad é um dos grandes nomes do teatro contemporâneo mundial. Sua tetralogia sobre guerras, recomeços, identidade e traumas segue sendo fonte de montagens intensas, onde importa o destino humano em face da tragédia.
É a partir de sua peça Florestas, que a turma TEC.U, dirigida por Ole Erdmann, concebe sua montagem semestral. Em cena, acompanhamos uma saga familiar atravessando um grande condensado de eventos traumáticos e felizes por três nações, dois continentes e em 150 anos de história europeia. Ao mesmo tempo, assistimos um melodrama familiar, uma história de detetive e uma tragédia contemporânea.
O processo de encenação foi caracterizado pela elaboração da dramaturgia complexa, fragmentada e não-linear do texto. Cenas e imagens são, portanto, encenadas de forma a se sobreporem ou se encontrarem repetidamente e, assim, referirem-se umas às outras. A montagem se completa com projeções de vídeo e música dando contexto histórico às cenas.
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Com a palavra, o diretor
“Há um quadro de Klee que se intitula Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. Tal deve ser o aspecto do anjo da história. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as joga aos seus pés.
Ele gostaria de deter-se para despertar os mortos e reunir os vencidos, mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele dá as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.”
Ao ler “Florestas”, a primeira coisa que me veio à mente foram essas frases de Walter Benjamin sobre a pintura Angelus Novus de Paul Klee. A ideia da história nas florestas me parece comparável à visão de Benjamin na sua filosofia da história. Wadji Mouawad (1968), nascido no Líbano, fugiu do Líbano com sua família maronita em 1976 para escapar da guerra civil, primeiro para a França e de lá para Quebec (Canadá) em 1983.
"Florestas" é a terceira parte de sua tetralogia sobre traumas causados pela guerra e pela violência que deixaram sua marca em gerações de famílias inteiras. Suas quatro peças "Litorais", "Incêndios", "Florestas" e "Céus", tratam da busca pelas origens, do reconhecimento do passado e da esperança no futuro. Em textos assombrosos e poéticos, Mouawad tematiza “a promessa” que nem sempre é cumprida em face dos escombros acumulados pelo progresso da história humana.
Em “Florestas”, a promessa “Eu nunca vou te abandonar” é quebrada por circunstâncias externas e internas, geração após geração, e nos conduz por sete capítulos sobre os ancestrais de Loup - mães, filhas, avós e bisavós nessa saga familiar sobre amor, violência, guerra e abandono: “O cérebro de Aimée”, “O sangue de Leonie”, “A mandíbula de Luce”, “O ventre de Odette”, “A pele de Hélène”, “O sexo de Ludivine” e “O coração de Loup”. Uma mulher está faltando nessa lista, e é por meio da contribuição da paleontóloga Odine Dupontel e sua busca pelo fragmento perdido de um crânio encontrado no campo de concentração de Treblinka que ela emerge da escuridão da história.
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O desvendamento final do mistério familiar por Loup e Odine desafia a explicação científica e aponta para uma solução sobrenatural para o drama familiar que assombra Loup. Em vista dos muitos conflitos armados que se intensificam em todo o mundo atualmente, a atualidade do trabalho de Mouawad, sua tetralogia e a peça teatral “Florestas” não podem ser superestimadas.
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Ole erdmann
diretor
Wajdi Mouawad
Ole Erdmann
Luciana Bicalho
Brunna Marques
Antônia Reis
Pedro Garcêz
Thiago Nogueira
Victor Carvalho
Alan Souza Farìa
Antônia Reis
Danzinho
Edinara Boff
Pedro Garcêz
Stela Vasconcellos
Wilson Reis
Lívia Miguel
Alan Souza Farìa
Edinara Boff
Ilana Macedo
Danzinho
Rhavinne Vaz
Ana Vaz
Danielle Rosa
Luiz Oliveira